CaféNaCaneca

quinta-feira, agosto 07, 2008

Nietzsche - conclusão


Uma questão que sobressai ao presente trabalho é aquela do “porque Nietzsche?”. As duas últimas décadas do século XIX são expoente da modernidade e dos avanços tecnológicos; grande parte dos maiores nomes da ciência são fruto desses anos. Dentre tantas mentes empenhadas e interessadas no progresso da ciência e da humanidade, a voz de um homem destoava desse compasso; este era Nietzsche. Todavia, essa perspectiva pode nos levar a contraposição filósofo/humanista e cientista natural, o que não consideramos de todo relevante. Mais interessante do que tentarmos definir os limites de atuação do filósofo ou cientista seria procurar atribuir seus respectivos saberes, refletindo sobre suas influências de modo a reavaliar nosso universo social. Dessa forma, podemos imaginar em que medida o pensamento de Nietzsche está por trás, oculto, das escolhas determinadas não pelo próprio indivíduo, mas sim por uma ordem social maior, qual seja, a do capital; onde nos prendemos a bens de consumo aceitos amplamente pela sociedade. Seja o carro do ano, seja qualquer cosmético de catálogos que trazem belas mulheres como mostruário, seja a nova ética e moral (também determinadas pela dinâmica capitalista monopolista), não seriam todas elas restrições ao ser, provavelmente ainda mais intensas do que aquelas vividas por Nietzsche? Ora, não será exatamente disso que o filósofo falava em Ecce Homo (1908) quando escreve “Conheço a minha sina. Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo, de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciência, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, querido. Eu não sou um homem, sou dinamite".


P. Stabile
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"Escrevo por ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens." (C. Lispector_)